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Mostrando postagens de 2015

DEPOIS DA TEMPESTADE

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Talvez ele não saiba que aquela dor que ele causou, calou os olhos dela violentamente por uns tempos. Isso não é crime, é carma: magoar alguém assim, dentro do melhor vestido, remover com lágrimas o rímel cuidadosamente passado, deixar tão descrente alguém que achava a vida mágica... Talvez ele nem imagine que ela parou de sair com os amigos para beber vinho em casa escondido, no café da manhã. E escreveu vinte e nove cartas sobre a raiva e nunca enviou porque era moça espiritualista e tinha que manter o discurso saudável do “isto também passará”.  (Não mandou, mas depois da segunda garrafa de vinho às três da tarde, foi por um triz). Talvez ele nunca saiba que ela mudou os móveis de lugar, mandou queimar o colchão que já conhecia o peso dos dois corpos, e deu pro morador de rua o edredom que testemunhara tantos abraços noturnos. Dormiu no chão, quis mudar de religião, leu Lacan e criticou Freud.Pensou em mudar de curso, de profissão, de cidade. Quis mudar de si, j

Canção da Plenitude

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Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.) O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias  Lya Luft

Amores Apertados

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Sabe aqueles banheiros mínimos, que quando um entra o outro tem que sair? Têm amores que parecem um banheiro apertado: só cabe um. Ela ama o cara. Interessa-se pela sua vida, seu trabalho, seus estudos, seu esporte, seus amigos, sua família, enfim, ela está inteira na dele. Ele, por sua vez, recebe isso dc muito bom grado, mas não retribui.  Não pergunta pelo trabalho dela, pelas angústias dela, por nada que lhe diga respeito. Ela, obviamente, não gosta desta situação, mas vai levando, levando, levando, até que um belo dia sua paciência se esgota e ela tira o time de campo. Aí ele entra. De repente, como num passe de mágica, ele se dá conta de como ela é legal, de corno ele tem sido distante, de como vai ser duro ficar sem a sua menina. Então ele a torpcdeia com e-mails e telefonemas carinhosos.  Mas ela é gata escaldada, não vai entrar nessa dc novo. Ele insiste. Quer vê-la, quer que ela entenda que ele é desse jeito tosco mesmo, mas que no fundo ela é a mulher da vida d
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Ir embora de uma pessoa é das tarefas mais difíceis da vida.  Porque, antes de tudo, e principalmente depois no nada, partir é  repartir-se. Como, por exemplo, ir embora de alguém? Onde se compra a passagem? Vai-se de ônibus, trem, avião ou a pé tropeçando na vontade tola de voltar? Quantos quilômetros de tempo são necessários para estar longe o  suficiente? É preciso mudar para outro estado para mudar o estado da alma? Do que adianta não ver ninguém ao olhar para trás, mas ver ao olhar para dentro? Como se vai embora de uma pessoa? Leminski

Felicidade Realista.

De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.  Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.  É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser

A Melhor Versão de nós Mesmos

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Alguns relacionamentos são produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto. Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores. Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece? A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior. Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para en

Saudoso E-mail

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Quando o e-mail surgiu, foi considerado um meio prático, porém frio de se corresponder. Mas agora que o e-mail foi reduzido a pó pelo Face, WhatsApp & cia., agora que ele sobrevive apenas para a troca de mensagens profissionais (e olhe lá), agora que ele respira por aparelhos, já podemos lembrar, nostálgicos, de como ele era refinado. O e-mail entrava discretamente na sua caixa de mensagens e ficava ali, quietinho, aguardando pacientemente o momento em que o destinatário pudesse lê-lo e respondê-lo. Havia todo o tempo do mundo para isso. A resposta podia ser bem articulada, revisada e enviada sem nenhuma aflição. Claro que não era agradável deixar alguém aguardando uma semana, mas na maioria das vezes não levava tanto tempo assim, o retorno geralmente era dado no mesmo dia ou no dia seguinte, e isso era suficiente para comemorar esta vibrante conexão virtual. Isso foi ontem. Anteontem. Um século atrás. Dá no mesmo. Agora você troca mensagens instantâneas, um toma-lá-dá-cá qu

Despedida

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Existem duas dores de amor: A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também… Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que f

Enya - Only Time - Só o tempo.

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(...) Numa desilusão, esteja atento: ninguém se perde de si mesmo porque foi abandonado. Por maior que seja a luz, não deixe que a sua sombra o encubra só porque um ciclo acabou  sem explicações plausíveis. Há sempre alguma coisa nova por nascer e que precisa deste espaço. Há sempre uma história mais bonita adiante. Há sempre uma forma mais saudável de lidar com sua dor. E recriar o seu destino, tentar se harmonizar com as decisões do outro sem trazer para si as incompletudes dele, é uma forma bem mais interessante de sentir amor...  Marla de Queiróz
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Renunciar a algo que amamos muito e que desejamos com toda a força do coração é uma das decisões mais cruéis de se tomar que conheço. Porque a perda equivale a uma morte dupla: morrer para alguém e matar a pessoa na gente. É como se sobrasse por dentro apenas um casarão vazio com um jardim morto. E, de repente, tudo tão subitamente anoitecido sem previsões de dia novo. É um caminhar lento e arrastado numa espera sombria de que as horas passem e o tempo leve essa febre alta sem medicação possível. É preciso que haja tanta paciência e firmeza por dentro pra não entrar em desespero, que a sensação que se tem é de estar meio fora do ar, com tanto esforço. E até chorar fica difícil, teme-se que nunca mais o choro cesse. Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado: muda-se a auto-imagem, alegrias ficam suspensas, sonhos desaparecem por um tempo e nenhuma cor na paisagem. O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte

A dificil arte de seguir em frente.

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(Em outras palavras: na hora do aperto a gente apela para a autoajuda, birita, ombro dos amigos, livros bestas e músicas cafonas.) Por algum motivo as coisas não deram certo. Sua vida seguiu por um caminho e a dele dobrou duas quadras mais para a frente.  Você fica se perguntando o que aconteceu, o que deu errado, por que vai ter que enfiar todos os planos dentro da nécessaire, fechar e ficar um tempão sem abrir novamente. A gente passa por diversas fases. Sentimos raiva, sentimos dor, sentimos revolta, sentimos desprezo, sentimos saudade, sentimos amor, sentimos medo de nunca mais esquecer, sentimos medo de gostar de novo, sentimos vergonha e receio em repetir os mesmos erros bobos. Demorei muito para acreditar na mais louca e cruel verdade: Quem gosta de você vai te tratar bem. Quem gosta de você se importa, quer o melhor, te procura, te liga, te dá satisfação. Quem gosta quer estar junto. Quem gosta demonstra. Quem gosta faz planos. Quem gosta apresenta para

A dor que dói mais.

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Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.  Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outr

Apaixone-se por Um Grande Homem.

Nós homens nos caracterizamos por ser o sexo forte, embora muitas vezes caiamos por debilidade. Um dia, minha irmã chorava em sua casa… Com muita saudade, observei que meu pai chegou perto dela e perguntou o motivo de sua tristeza. Escutei-os conversando por horas, mas houve uma frase tão especial que meu pai disse naquela tarde, que até o dia de hoje ainda me recordo a cada manhã e que me enche de força. Meu pai acariciou o rosto dela e disse: “Minha filha, apaixone-se por Um Grande Homem e nunca mais voltará a chorar”. Perguntei-me tantas vezes, qual era a fórmula exata para chegar a ser esse grande homem e não deixar-me vencer pelas coisas pequenas… Com o passar dos anos, descobri que se tão somente todos nós homens lutássemos por ser grandes de espírito, grandes de alma e grandes de coração, O mundo seria completamente diferente! Aprendi que um Grande Homem… Não é aquele que compra tudo o que deseja, porque muitos de nós compramos com presentes a afeição e o respei