Despedida
Existem
duas dores de amor: A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo
amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação
de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão
embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é
quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. A mais dilacerante é a dor
física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser
amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a
dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover
a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói
também… Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem
se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído,
tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que foi vivida… Passou a
ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz
parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas
para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de
certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível
alforriar. É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma
durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’ propriamente dita. É uma dor que nos
confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que
nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por
ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava
dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”. Despedir-se de um amor é
despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou,
externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da
gente… E só então a gente poderá amar, de novo.
Martha Medeiros
Martha Medeiros