Amores Apertados
Sabe
aqueles banheiros mínimos, que quando um entra o outro tem que sair? Têm amores
que parecem um banheiro apertado: só cabe um.
Ela ama o cara. Interessa-se pela sua vida, seu trabalho, seus estudos, seu esporte, seus amigos, sua família, enfim,
ela está inteira na dele.
Ele,
por sua vez, recebe isso dc muito bom grado, mas não retribui.
Não pergunta pelo
trabalho dela, pelas angústias dela, por nada que lhe diga respeito. Ela,
obviamente, não gosta desta situação, mas vai levando,
levando, levando, até que um belo dia sua paciência se esgota e ela tira o time
de campo. Aí ele entra.
De
repente, como num passe de mágica, ele se dá conta de como ela é legal, de
corno ele tem sido distante, de como vai ser duro ficar sem a sua menina. Então
ele a torpcdeia com e-mails e telefonemas carinhosos.
Mas ela é gata escaldada, não vai entrar nessa
dc novo. Ele insiste. Quer vê-la, quer que ela entenda que ele é desse jeito
tosco mesmo, mas que no fundo ela é a mulher da vida dele.
Ela
é gata escaldada, mas não é de gelo: então tá, vamos tentar de novo. Ela entra
com tudo.
Com a namorada resgatada, ele se isola novamente em seu
próprio mundo, deixando-a conduzir tudo sozinha. É ela que o procura, é ela
que o elogia, é ela que arma os programas, é ela que lembra das datas, é ela,
tudo ela, só ela. Quer saber: Tô fora!
Aí
ele entra. Pô, gata, prometo, juro, 6: vou cobrir você de carinho. E não é que
ele cumpre? Passa a tratá-la como uma deusa, superatencioso parece outro homem.
Ela aceita a deferência, mas não entra mais nesse jogo. Simplesmente não
retribui o afeto dele, quase nunca telefona, sai com as amigas toda hora, e ele
ali, no maior esforço. Ela esnobando, ele tentando, ela se fazendo, ele se
declarando. Até que ele enche: Tô fora.
Aí
ela entra. E ele esfria, e ela cai fora, e ele volta, e seguem neste entra e
sai até o desgaste total.
Bom
mesmo é amor em que cabem os dois juntos.
Martha
Medeiros