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Mostrando postagens de agosto, 2015

DEPOIS DA TEMPESTADE

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Talvez ele não saiba que aquela dor que ele causou, calou os olhos dela violentamente por uns tempos. Isso não é crime, é carma: magoar alguém assim, dentro do melhor vestido, remover com lágrimas o rímel cuidadosamente passado, deixar tão descrente alguém que achava a vida mágica... Talvez ele nem imagine que ela parou de sair com os amigos para beber vinho em casa escondido, no café da manhã. E escreveu vinte e nove cartas sobre a raiva e nunca enviou porque era moça espiritualista e tinha que manter o discurso saudável do “isto também passará”.  (Não mandou, mas depois da segunda garrafa de vinho às três da tarde, foi por um triz). Talvez ele nunca saiba que ela mudou os móveis de lugar, mandou queimar o colchão que já conhecia o peso dos dois corpos, e deu pro morador de rua o edredom que testemunhara tantos abraços noturnos. Dormiu no chão, quis mudar de religião, leu Lacan e criticou Freud.Pensou em mudar de curso, de profissão, de cidade. Quis mudar de si, j