Abri a porta de casa, afundei o corpo no sofá. O vento fazia um redemoinho na sala, retorcia as cortinas e trazia um saxofone sofrido de algum lugar. Não fechei a janela, fechei os olhos. Centenas de mensagens pipocavam no celular sem me despertar a menor curiosidade. O que poderiam querer de mim naquela hora em que eu não tinha absolutamente nada para dar? Abracei a almofada mais próxima e a gata se aninhou no meu dorso. Ficamos quietas, numa cumplicidade infinita, contemplando como as coisas existiam enquanto as luzes apagadas. Um cansaço de tudo preenchendo o resto do tempo do dia. Nenhuma tristeza, nenhuma saudade, nenhuma palavra, apenas a música do vento. E a noite esperando o silêncio. E a mente esperando o silêncio. E o amor esperando em silêncio. E o silêncio.



Marla de Queiroz


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