O fim..



...É uma clássica. Depois de anos de amor e intimidade, o casamento ou o namoro se desfaz.
Os dois juram nunca mais se ver, odeiam-se por algumas semanas, até que um dia surge uma pendência para ser conversada, ou simplesmente resolvem tomar um drinque para provar ao mundo que a amizade prevaleceu, essas cenas aparentemente civilizadas que sempre trazem significados ocultos.
Ou pior: encontram-se sem querer, de repente, num estacionamento no centro da cidade, num corredor de shopping, num quiosque do mercado público. Oi, você aqui? Que surpresa!
E os dois beijinhos saem de uma forma tão desengonçada que seria motivo pra rir, não fosse de chorar.
Eles não se possuem mais fisicamente. Interdição do corpo. Um dos troços mais sofridos de um final de relacionamento, que só se vai experimentar depois de um tempo afastados...
Ele está ali na sua frente. Mas você não pode agarrar os seus cabelos, não pode passar a mão no seu peito, não pode rir de uma piada interna que só pertence aos dois, porque está oficializado que nada mais pertence aos dois.
Ela está ali na sua frente. Mas você não pode mais dar uma beliscadinha na bunda, não pode mais beijá-la na boca, não pode mais dizer uma bobagem em seu ouvido, porque está oficializado que ela agora é apenas uma amiga, e não se toma esse tipo de liberdade com amigas.
Depois de terem vivido, por anos, a proximidade mais libidinosa e abençoada que pode haver entre duas pessoas apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque.
Não se amam mais, é o que ficou decretado. Logo, os códigos de aproximação mudaram.
Você dará dois beijinhos na mulher que tantas vezes viu nua, como se ela fosse uma prima.
Você dará dois beijinhos no homem para quem tanto se expôs, como se ele fosse um colega de escritório...
O corpo interditado. Você não pode mais tocá-lo, você não pode mais tocá-la.
O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão: acabou mesmo.



Martha Medeiros


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